83% das cidades brasileiras já enfrentaram desastres por chuva, revela estudo
Pesquisa da Unifesp aponta crescimento de 222,8% em eventos climáticos entre 2020 e 2023, com impacto em mais de 4.600 municípios.
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado nesta terça-feira (1), revelou que 83% dos municípios brasileiros já passaram por pelo menos um desastre causado por chuvas intensas entre 2020 e 2023, um salto impressionante em comparação à década de 1990, quando essa proporção era de apenas 27%.
Segundo o relatório “Temporadas das Águas: O Desafio Crescente das Chuvas Extremas”, o Brasil registrou 7.539 eventos climáticos nesse período — um aumento de 222,8% sobre os 2.335 casos verificados nos anos 1990.
As chuvas foram responsáveis por cerca de 86% das mortes associadas a desastres climáticos, resultando em cerca de 4.247 óbitos. Aproximadamente 8,7 milhões de pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas, representando 94% dos afetados por desastres neste período.
Do total de eventos, 64% foram hidrológicos, como enxurradas e inundações, e 31% meteorológicos — principalmente chuvas intensas e tempestades.
Os prejuízos financeiros também foram alarmantes: entre 1995 e 2023, perdas somaram cerca de R$ 146,7 bilhões, com R$ 43 bilhões registrados apenas de 2020 a 2023. Se incluídas as enchentes do Rio Grande do Sul em 2024, o montante atinge até R$ 132 bilhões na década.
Geograficamente, os eventos concentraram-se nas regiões Sul e Sudeste (cerca de 68%), seguidas por Nordeste (17%), Norte (9%) e Centro‑Oeste (7%).
O estudo aponta ainda que o impacto social é grande: 90% das pessoas afetadas relataram traumas emocionais, e 654 mil foram feridas ou adoeceram.
Contexto e soluções
Pesquisadores da Unifesp, como Ronaldo Christofoletti, comentam que a elevação das temperaturas atmosféricas e oceânicas intensifica as chuvas extremas, em linha com projeções do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. As regiões Sul e Sudeste podem registrar até 30% mais chuva até 2100, enquanto outras áreas sofrerão redução dos volumes.
Juliana Baladelli Ribeiro, da Fundação Grupo Boticário, defende soluções baseadas na natureza — como jardins de chuva e parques urbanos — como alternativas eficazes para mitigar impactos em áreas urbanas.