Cracolândia permanece deserta uma semana após esvaziamento repentino
Autoridades comemoram ações de segurança, mas movimentos sociais denunciam repressão e dispersão forçada de usuários para outras áreas de São Paulo
Cracolândia permanece deserta uma semana após esvaziamento repentino
A região da Cracolândia, no centro de São Paulo, segue praticamente deserta uma semana após o inusitado esvaziamento ocorrido no dia 13 de maio. O tradicional “fluxo” de usuários de drogas, concentrado na Rua dos Protestantes, desapareceu de forma abrupta, e a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM) também foi significativamente reduzida nos últimos dias.

Ações policiais e discurso oficial
Autoridades municipais e estaduais celebraram o esvaziamento como resultado de ações coordenadas entre forças de segurança e assistência social. O vice-prefeito da capital, coronel Mello Araújo (PL), atribuiu o resultado a prisões de traficantes e desarticulação de pontos de distribuição de drogas. O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, reforçou a ideia de que o tráfico foi enfraquecido na região.
No entanto, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) adotou um tom mais cauteloso. Ele afirmou estar surpreso com a dispersão repentina e que a prefeitura ainda busca entender o que provocou a mudança. Segundo ele, havia uma expectativa de redução gradual, com parte dos usuários retornando aos seus estados ou aderindo a tratamentos.
Críticas e denúncias de repressão
Movimentos sociais, como o Craco Resiste, contestam a narrativa oficial. Para eles, a dispersão foi forçada e violenta, marcada por agressões e internações compulsórias. Há relatos de que muitos usuários migraram para outras áreas do centro, como Minhocão, Santa Cecília e Campos Elísios.
Profissionais de saúde também relataram preocupações com a interrupção de tratamentos para doenças como HIV e tuberculose, agravada pela dificuldade em localizar os pacientes dispersos.
Apuração e consequências
Diante das denúncias de violência, a Corregedoria da GCM afastou preventivamente alguns agentes suspeitos de envolvimento em agressões na véspera do esvaziamento. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana determinou a apuração imediata dos fatos.
Especialistas alertam que, embora o desaparecimento do “fluxo” possa ser visto como avanço do ponto de vista da segurança, a ausência de planejamento para atendimento aos usuários pode representar um retrocesso em termos de saúde pública e direitos humanos.
Desdobramentos
A situação permanece incerta. Não há confirmação oficial sobre se a ausência de usuários será duradoura ou apenas um rearranjo temporário. Enquanto o poder público comemora, ONGs e entidades de apoio aos dependentes químicos cobram uma abordagem mais humanizada e eficaz no combate à crise da Cracolândia.