Jardim Pantanal: Enchentes históricas deixam moradores à própria sorte na Zona Leste de São Paulo
Há quatro dias, a região enfrenta inundações severas, com moradores dependendo da solidariedade da comunidade e criticando a falta de ação efetiva do poder público.
Há quatro dias, o Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, enfrenta uma das piores enchentes de sua história. Após as fortes chuvas do último sábado (1º), a região, localizada na várzea do rio Tietê, permanece alagada, com ruas intransitáveis e moradores dependendo quase exclusivamente da solidariedade da própria comunidade. O cenário é de desespero e abandono, com famílias perdendo tudo e sem receber o apoio necessário do poder público.

O líder comunitário Alex Novais resume a situação: “Aqui é a comunidade ajudando a comunidade”. Ele critica a falta de assistência governamental e alerta para o risco de desaparecimentos e mortes. “Só saberemos se há vítimas quando a água baixar. Tem lugares onde só se chega de bote”, relata. Novais também aponta o aumento de aterros irregulares à beira do rio Tietê como um dos fatores que agravaram as inundações. “Quanto mais aterro, menor fica a dimensão do rio, e a água precisa escoar para algum lugar”, explica.
A correnteza intensa causada pelas chuvas transformou as ruas em rios a céu aberto, com cenas surreais, como peixes sendo arrastados para as vias. “Parecia um rio passando. Caiu peixe do céu?”, questiona Novais.
Danilo Soares, influenciador digital e morador do bairro, viveu sua primeira enchente aos nove anos e agora, adulto, se vê novamente diante do mesmo drama. Ele resgatou a mãe de casa e se juntou a voluntários para ajudar vizinhos ilhados, mesmo enfrentando riscos de contaminação pela água poluída. “Teve ponto em que só tinha idosos sozinhos. Se a gente não ajudasse, ninguém mais faria”, afirma. Soares também usou seu perfil no Instagram, com quase 18 mil seguidores, para mobilizar doações e apoio.
A solidariedade entre os moradores é um dos poucos alentos em meio ao caos. “Pessoas com a casa cheia de água ainda ajudavam, doando comida e força braçal”, relata Soares. No entanto, muitos enfrentam consequências graves, como demissões por faltas ao trabalho devido às enchentes.
José Adilson da Silva, morador há 31 anos, investiu para elevar o nível de sua casa e evitar alagamentos. “Custou mais, mas valeu a pena”, diz. Ele critica a falta de ação do poder público, que, segundo ele, só age sob pressão da mídia.
Plano e Reivindicações para o Jardim Pantanal
O Instituto Alana, em parceria com moradores e o Instituto de Arquitetos do Brasil, desenvolveu um plano de bairro com propostas para melhorias urgentes, como abastecimento de água, saneamento, regularização fundiária e microdrenagem. O plano também sugere o desassoreamento do rio Tietê, medida crucial para evitar futuras tragédias.
Ações da Prefeitura
A prefeitura de São Paulo afirmou estar concentrando esforços em medidas emergenciais, como a distribuição de refeições, cestas básicas e água, além de atendimentos de saúde para moradores e pets. Três alojamentos foram montados, e cartões emergenciais no valor de R$ 1 mil foram entregues a 1,1 mil famílias. Equipes também atuam no bombeamento da água em vias alagadas, mas a operação nas áreas próximas ao rio Tietê depende da redução do nível do rio.
A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente autuou duas pessoas por aterro irregular em área de proteção ambiental, aplicando multas de R$ 760 mil. A prefeitura também garantiu que as escolas municipais continuam funcionando, com reposição de aulas para alunos impossibilitados de comparecer.
Um Chamado à Ação
Enquanto a comunidade do Jardim Pantanal se mobiliza para enfrentar mais uma tragédia, a falta de infraestrutura adequada e a demora na resposta do poder público evidenciam a necessidade de soluções permanentes. As enchentes não são novidade na região, mas a repetição do cenário de abandono e sofrimento exige ações concretas e imediatas para evitar que histórias como essas continuem se repetindo.