Brasil

Ração contaminada pode ter causado a morte de mais de 600 cavalos no Brasil

Surto de intoxicação em seis estados está sendo investigado pelo Ministério da Agricultura; produto da Nutratta é o principal suspeito

Um surto de intoxicação por ração contaminada pode ter causado a morte de mais de 600 cavalos em seis estados brasileiros nas últimas semanas, gerando comoção entre criadores e uma mobilização urgente do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A principal linha de investigação aponta para rações produzidas pela empresa Nutratta Nutrição Animal, cuja fábrica teve parte de sua produção suspensa após testes laboratoriais identificarem a presença de monocrotalina — uma substância altamente tóxica proveniente de plantas do gênero Crotalaria, proibida em alimentos destinados a equinos.

Ração contaminada pode ter causado a morte de mais de 600 cavalos no Brasil
Surto de intoxicação em seis estados está sendo investigado pelo Ministério da Agricultura(Nivaldo Lima – São Paulo Agora)

Os óbitos começaram a ser registrados ainda em junho e se intensificaram rapidamente. Em São Paulo, estado com o maior número de casos, estima-se que ao menos 290 cavalos morreram em cidades como Campinas, Guarulhos, Jundiaí e Sorocaba. Outros estados como Minas Gerais, Goiás, Bahia, Alagoas e Rio de Janeiro também notificaram perdas significativas. Em diversos haras, a situação foi tão crítica que cavalos avaliados em centenas de milhares de reais precisaram ser sacrificados diante da gravidade dos sintomas.

Veterinários relataram que os animais apresentaram sinais clínicos alarmantes, como perda súbita de apetite, comportamento agressivo, desorientação, movimentos repetitivos e lesões neurológicas. Em muitos casos, a morte ocorreu de forma rápida, sendo precedida por colapso hepático ou respiratório. A gravidade levou à realização de necropsias e testes toxicológicos, que confirmaram a presença do alcaloide em amostras das rações consumidas pelos cavalos.

Diante da crise, o Ministério da Agricultura determinou, em 17 de junho, o recolhimento imediato de todos os produtos destinados a equídeos fabricados pela Nutratta a partir de 21 de novembro de 2024. O órgão também suspendeu, em 25 de junho, a comercialização nacional dessas rações. As fiscalizações constataram falhas graves no processo de fabricação, incluindo mistura inadequada de matérias-primas, ausência de rastreabilidade e utilização de ingredientes não autorizados para equinos.

A Nutratta se defendeu afirmando que não há uma conclusão definitiva sobre a relação direta entre seus produtos e as mortes, embora tenha admitido problemas pontuais na linha de produção. A empresa conseguiu na Justiça uma liminar que permite a retomada da produção de rações para outras espécies, mas segue proibida de vender alimentos para cavalos até nova determinação.

Enquanto isso, um grupo de criadores organizou o movimento “Vítimas da Nutratta”, que busca responsabilizar a empresa civil e criminalmente, além de pressionar por indenizações. O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público, que abriu um procedimento investigativo em São Paulo para apurar as responsabilidades legais da fabricante.

A preocupação agora se estende também a outras espécies. Relatos isolados indicam que cães, bovinos e suínos que consumiram rações da mesma origem podem ter sido afetados. O Mapa aguarda novos resultados laboratoriais para confirmar ou descartar essa hipótese, mas a gravidade do caso já é considerada um dos maiores escândalos sanitários envolvendo nutrição animal no país nos últimos anos.

O setor agropecuário, principal consumidor desse tipo de insumo, está em alerta. Haras de alto desempenho, criadores independentes e associações de pecuaristas agora reforçam medidas de controle sobre a origem e a qualidade das rações, temendo que o episódio se repita com outras marcas ou em outras cadeias produtivas.

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