Amazônia pelas lentes de Luiz Braga ocupa o IMS-SP em mostra com 258 fotografias
Mostra no Instituto Moreira Salles reúne cinco décadas da produção do fotógrafo paraense, em imagens que revelam o cotidiano e a imaginação da Amazônia, longe dos clichês exóticos
Cores intensas, silêncios ribeirinhos, festas populares, interiores humildes e uma Amazônia que não se encaixa nos estereótipos. Assim é o universo de Luiz Braga, fotógrafo paraense que, há cinco décadas, transforma a região Norte do Brasil em imagem e poesia visual. Sua trajetória agora ganha destaque na exposição Luiz Braga: Arquipélago Imaginário, em cartaz até 29 de julho, no Instituto Moreira Salles, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo.

Ao longo de 50 anos, Braga se dedicou a registrar não apenas paisagens, mas também o modo de viver de quem habita as margens dos rios, os becos de Belém e os interiores das casas com luz amarela e rede armada.
As 258 fotos da mostra, feitas entre 1979 e 2023, apresentam um recorte extenso, mas nada óbvio. A exposição é construída em núcleos que revelam não uma linha do tempo, mas um sentimento de travessia.
Há imagens em preto e branco do início da carreira, ainda nos anos 1980, lado a lado com suas famosas fotografias em cores saturadas – marca registrada que surgiu quando ele passou a usar luz artificial de forma criativa, dando às cenas uma atmosfera quase onírica.
Com curadoria de Iatã Cannabrava, a exposição também destaca como o fotógrafo reinterpreta seu território: Braga não busca o “exótico” ou o “natural”, mas o cotidiano. É o Pará dos igarapés e também dos bares de bairro, das crianças no porto, do moço de bicicleta atravessando a rua molhada.
Como o próprio artista afirma, sua fotografia é “afetiva”, um retrato amoroso de uma Amazônia vivida e imaginada. Essa perspectiva é especialmente importante quando pensamos que, durante muito tempo, a produção artística da região Norte foi invisibilizada nos grandes centros culturais. Ver Luiz Braga ocupar o IMS-SP com uma mostra dessa dimensão é também um sinal de mudança e reconhecimento.
Para quem está em São Paulo – ou pensa em visitar –, a exposição é uma ótima oportunidade para incluir o IMS em um pacote de viagem com foco cultural. A Avenida Paulista, onde está o instituto, é um verdadeiro corredor artístico da cidade, com o MASP, o Sesc Avenida Paulista, o Japan House e o Itaú Cultural – todos a poucos minutos de caminhada. Combinado a isso, outros polos como a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa e o Centro Cultural São Paulo completam um roteiro diverso e acessível para quem quer explorar a arte e a cultura brasileira em suas múltiplas expressões.
Em tempos de pressa e consumo rápido de imagens, as fotografias de Luiz Braga convidam a parar, olhar com calma e escutar com os olhos. E talvez esse seja o maior presente da exposição: nos fazer imaginar, por um instante, o mundo a partir das margens dos rios.