Incêndio atinge arranha-céus em Hong Kong e deixa ao menos 44 mortos
Complexo residencial em Tai Po é consumido pelas chamas; autoridades investigam falhas em andaimes de bambu
O distrito de Tai Po, ao norte de Hong Kong, foi palco de uma das maiores tragédias urbanas da história recente da região. Um incêndio de grandes proporções atingiu, na tarde de 26 de novembro, o complexo habitacional Wang Fuk Court, composto por oito torres de mais de 30 andares, deixando pelo menos 44 mortos, incluindo um bombeiro, e centenas de desaparecidos. As chamas, que começaram por volta das 14h51 (horário local), consumiram rapidamente diversas unidades residenciais, pegando de surpresa os moradores — muitos deles em casa durante o início da emergência.

O incêndio teria começado em andaimes de bambu instalados nas fachadas para reformas. O uso desse tipo de estrutura, tradicional em Hong Kong, tem sido amplamente criticado por sua alta inflamabilidade. Além disso, a presença de materiais plásticos e redes de proteção nas obras pode ter agravado a propagação das chamas. As altas temperaturas e a densa fumaça tornaram o trabalho das equipes de resgate extremamente desafiador, dificultando o acesso a andares superiores. Durante toda a noite, bombeiros seguiram nas tentativas de resgate, enfrentando condições extremas.
A tragédia causou comoção imediata. Autoridades locais confirmaram que 279 pessoas seguem desaparecidas, o que eleva as expectativas de um número ainda maior de mortos. O governo disponibilizou abrigos temporários para os moradores desalojados e garantiu o início de uma investigação rigorosa sobre as causas e responsabilidades do incêndio. Três pessoas — dois diretores de empresa de construção e um consultor — foram presas sob suspeita de homicídio culposo por negligência grave. A polícia aponta que os andaimes não atendiam a normas de segurança e teriam sido instalados de maneira irregular.
O incêndio do Wang Fuk Court já é considerado o mais letal de Hong Kong desde 1996, quando 41 pessoas morreram no incêndio do edifício Garley. A comoção popular pressiona o governo a revisar de maneira urgente as normas de segurança contra incêndios e o uso de materiais inflamáveis em obras civis. A tragédia também destaca falhas sistêmicas na fiscalização de construções e reformas, especialmente em zonas residenciais de alta densidade populacional, como é o caso de Tai Po.
Enquanto as investigações seguem, familiares das vítimas vivem dias de desespero à espera de notícias. Voluntários e organizações civis têm prestado apoio psicológico aos sobreviventes, que perderam tudo — parentes, bens e a segurança de seus lares. O episódio pode marcar um divisor de águas na regulamentação das construções em Hong Kong, que ainda convive com práticas ultrapassadas em meio a uma das regiões urbanas mais densas e verticalizadas do planeta.







