Lula critica gastos militares na Cúpula do Brics: “O mundo investe mais na guerra do que na paz”
Durante discurso no Rio, presidente defende reforma na ONU e diz que atual sistema internacional falha em conter conflitos e promover o desenvolvimento
Na cerimônia de abertura da 17ª Cúpula do Brics, realizada neste domingo (6) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou o atual momento “mais adverso” no cenário global e lançou um duro alerta: “É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”. Lula criticou o direcionamento de recursos para a corrida armamentista — usando como exemplo a decisão da OTAN de destinar cerca de 5% do PIB para despesas militares, diante da obrigação de apenas 0,7% para a Assistência Oficial ao Desenvolvimento, prevista na Agenda 2030 da ONU.
O presidente relacionou essa disparidade de investimentos ao colapso do multilateralismo, argumento reforçado no discurso que destacou “um número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial”. Para Lula, enquanto persistirem estruturas como o atual Conselho de Segurança da ONU — que, segundo ele, “reproduz um enredo de perda de credibilidade e paralisia” —, o mundo continuará imerso em guerras e crises. O presidente defendeu a urgente reforma do órgão, com inclusão de países da Ásia, África e América Latina como membros permanentes, para torná-lo mais legítimo, representativo e eficaz no enfrentamento de crises globais.
Lula também abordou conflitos recentes como os entre Israel e Hamas, o ataque ao Irã e a guerra na Ucrânia, ao condenar tanto “terrorismos” quanto “genocídios” e enfatizar a necessidade de cessar-fogo e negociações diplomáticas efetivas. Ele ressaltou que “a diversidade do Brics torna o grupo capaz de promover a paz e prevenir conflitos”, reforçando o papel do bloco no fortalecimento do multilateralismo.
A fala de Lula, marcada por críticas à disparidade entre gastos com guerra e compromissos com desenvolvimento, foi acompanhada pelo silêncio de líderes ausentes como Xi Jinping e pela participação virtual de Vladimir Putin. O discurso reforça o posicionamento do Brasil e dos Brics como atores em busca de uma governança global mais equilibrada e comprometida com a paz.