Política

Câmara aprova projeto que reduz penas de condenados por tentativa de golpe

Texto aprovado muda regras de dosimetria e progressão de pena; proposta segue para o Senado e pode beneficiar condenados do 8 de janeiro

A Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada desta quarta-feira (10), um projeto de lei que pode reduzir significativamente as penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Com 291 votos favoráveis e 148 contrários, a proposta altera regras de dosimetria penal e pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, além de outras figuras do alto escalão envolvidas na tentativa de golpe de Estado.

Câmara aprova projeto que reduz penas de condenados por tentativa de golpe
Texto aprovado muda regras de dosimetria e progressão de pena; proposta segue para o Senado e pode beneficiar condenados do 8 de janeiro(Bruno Spada – Câmara dos Deputados)

O texto aprovado é um substitutivo apresentado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) ao Projeto de Lei 2162/23, originalmente de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ). A versão original previa anistia total aos envolvidos, proposta retirada após pressão e negociações no Congresso. Ainda assim, o novo texto mantém dispositivos que resultam, na prática, na redução de penas e flexibilização das condições de cumprimento.

A principal mudança é a unificação das penas aplicadas para crimes cometidos no mesmo contexto. Atualmente, as penas por tentativa de golpe e por abolição violenta do Estado Democrático de Direito podem ser somadas. Com o novo projeto, passa a valer apenas a pena mais grave — o que pode representar redução de anos de prisão para os condenados. Especialistas apontam que, com isso, Bolsonaro, por exemplo, poderia cumprir apenas 2 anos e 4 meses em regime fechado, em vez dos 7 anos e 8 meses inicialmente previstos.

O projeto também altera os critérios para progressão de regime. Condenados primários por crimes com violência ou grave ameaça — como os tipificados no contexto do golpe — poderão passar ao regime semiaberto após cumprir apenas 16% da pena, ante os 25% atualmente exigidos. Para reincidentes, a exigência cai de 30% para 20%.

Outro ponto polêmico é a possibilidade de réus que participaram dos atos de 8 de janeiro em meio à multidão — mas que não tiveram papel de liderança nem financiaram as ações — terem suas penas reduzidas de um terço a dois terços. Isso atinge diretamente centenas de pessoas que participaram das invasões aos prédios dos Três Poderes em Brasília.

Além disso, a nova lei permitirá que estudo ou trabalho realizados em regime domiciliar também contem para redução da pena, flexibilizando ainda mais a execução penal. Até hoje, essa prática vinha sendo aplicada com cautela pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas agora poderá se tornar regra.

Durante a sessão, a oposição tentou barrar os principais pontos do texto com destaques que propunham, por exemplo, manter os 25% para progressão em crimes com violência, impedir a remição de pena no regime domiciliar e preservar o sistema de penas cumulativas. Todos foram rejeitados pelo plenário.

A tramitação acelerada do projeto foi impulsionada por articulação de aliados de Bolsonaro, incluindo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, que esteve reunido com líderes do centrão no dia anterior à votação. A movimentação ocorre em meio ao lançamento da pré-candidatura de Flávio à Presidência da República e pode ser vista como um esforço político para aliviar juridicamente os condenados ligados ao ex-presidente.

Agora, o projeto segue para o Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que poderá pautar a votação ainda este ano, sinalizando pressa para consolidar as mudanças. Se aprovado sem alterações, o texto será enviado à sanção presidencial.

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